AUTOcrítica: reflexões sobre a dimensão autoral no projeto Faz-se urgente criar oportunidades para a discussão do nosso campo de atuação na contemporaneidade. Vivemos na “sociedade do espetáculo”, já anunciada por Guy Debord nos anos 1960, onde a arquitetura é, muitas vezes, reduzida à ícones e imagens recebidas passivamente através dos meios de comunicação em massa. A subordinação da arquitetura à logica neoliberal parece ter tido como consequência o esvaziamento do teor crítico da disciplina. Ao mesmo tempo que a supervalorização de sua dimensão meramente visual, em detrimento das outras tantas, faz com que se perca a oportunidade de problematizar, provocar, tencionar, mobilizar, revelar e ativar relações entre corpo e espaço. Em um contexto atual de competitividade entre indivíduos, instituições e cidades, a figura do autor-projetista é hipervalorizada e a “assinatura” torna-se uma forma de “agregar valor” à arquitetura e às cidades. Diante disso, decidimos abordar a questão da Autoria na Arquitetura, refletindo sobre seus vícios, métodos, processos, questionamentos e possíveis desdobramentos. O conceito moderno de “autoria” é há muito problematizado por filósofos, historiadores e artistas, em escritos como “A Morte do Autor” de Roland Barthes, “O Que é um Autor?” de Michel Foucault e “Angústia da Influência” de Harold Bloom. Já em 1917, Marcel Duchamp anunciava um grande rompimento com a tradicional expectativa autoral sobre a obra de arte, ao deslocar objetos do cotidiano para o meio artístico, ressignificando completamente a ação autoral. No entanto, permanece um tema periférico nas discussões sobre Arquitetura. Tendo o caminho aberto por estes pensadores, enxergamos “apropriações”, “desleituras”, “releituras”, “colagens” e “reproduções” como ações centrais na prática contemporânea, levantando novas formas de produzir arquitetura e cidades. Situamos aqui, a discussão do tema da autoria no “campo ampliado” da arquitetura, pois, ainda que vinculado a este departamento, para este seminário pressupomos a superação das rígidas fronteiras disciplinares, buscando explorar criticamente as interfaces com áreas como: Arte, Filosofia, Psicologia, Fotografia, Urbanismo, Paisagem, Design. O debate sobre o nosso campo será aberto. Assim iremos.
