Conferência com Professor Sérgio Bruno Martins.

14 de September de 2016

 

Visões da vanguarda é um ciclo de filmes e conferências que busca explorar e experimentar novas formas de apresentar e pensar o cinema e a arte, promovendo um diálogo entre filmes e curadores, artistas, escritores, críticos de arte e pesquisadores.

Assumindo uma perspectiva pós-medium, liberada de determinismos e especificidades materiais (a tela para a pintura, o mármore ou o chumbo para a escultura, a película para o cinema), buscamos ensaiar uma história heterodoxa do cinema. Esta não será pensada, como é muito frequente, nos seus desenvolvimentos técnicos – cinema mudo, sonoro, cor, câmeras leves, formas mais ágeis de captação de som, digital etc. – nem na evolução de seus estilos, mas esboçada e tateada nos gestos, interesses, procedimentos e métodos divididos e partilhados, em diferentes períodos, entre cineastas e artistas. Ao invés de buscar compreender como um filme nasce de todos os outros que o antecederam ou como uma obra dialoga com uma tradição específica, queremos saber como cineastas de vanguarda e artistas olham e respondem ao que lhes afeta no mundo. Assim, elencamos seis questões que os ocuparam e provocaram ao longo dos últimos cem anos, motivando respostas das mais distintas, mas que pedem para ser vistas em diálogo: o interesse e a investigação do corpo; o gesto apropriativo e a colagem; a sedução (e a falência) da racionalização das formas; o desejo de chegar perto, diluir-se ou apropriar-se do cotidiano; a crítica da representação; e a aproximação com o outro cultural e étnico.

O ciclo será dividido em seis encontros: a cada dia uma sessão com filmes de artistas ou experimentais montada em torno de um desses processos ou interesses norteadores será seguida por uma conferência de um artista, escritor, curador ou pesquisador que aceitou o desafio de abordar essas mesmas questões e procedimentos em outros campos da produção artística ou do pensamento.

16/9 Quadros, enquadramentos e estrututuras primárias – 18h

Quadros, enquadramentos, estruturas primárias

Do construtivismo ao minimalismo, passando pela Bauhaus, a geometria e a racionalidade da forma foram, mais que fontes de inspiração, modelos de construção para a arte no século XX. A arte de matriz construtiva se baseou, assim, em técnicas mecânicas e formas impessoais, recusando as intenções expressivas da arte tradicional. Ao longo do século, essas propostas se transformaram. No neoconcretismo brasileiro ao fim dos anos 1950, a desconfiança do que parecia ser um racionalismo exagerado expandiu o repertório concretista para o espaço, a vida cotidiana e o corpo. No minimalismo, a partir da década de 1960, além da simplificação formal e material, estava em questão a relação entre o corpo e o espaço, a percepção do todo e da parte e os modos de compreender o espaço e os limites da obra, o que acabou por relativizar a dimensão racional dos trabalhos, abrindo-os para proposições mais sensórias.

Os filmes deste programa exploram as relações entre o formato total da tela e os elementos do quadro; o fora e o dentro de campo; o espaço da ação e seus limites, de modo análogo ao que fizeram os artistas plásticos de matriz construtiva. Há a mesma tendência à simplificação formal, evidente na escolha por trabalhar com planos fixos ou por repetir apenas um procedimento técnico como a panorâmica. Também há a tensão entre os aspectos racionais e geométricos (do quadro, dos sobre-enquadramentos, do movimento da câmera, do palco onde se desenrola a cena) em relação à presença disruptiva do corpo humano nesse espaço. Alguns, sem a presença humana, colocam os quadros e sobre-enquadramentos em destaque, jogando com as tensões entre estaticidade e movimento por meio de operações distintas.

Serene Velocity Ernie Gehr, 1970, 23’, 16mm

Railroad Turnbridge Richard Serra, 1976, 17’, 16mm

Walking in an Exaggerated Manner Around the Perimeter of a Square Bruce Nauman 1967, 11`, 16 mm/vídeo

Pátio Glauber Rocha, 1959, 11’, 16 mm (exibição em vídeo)

Leitmotiv Cinthia Marcelle, 2011, 4`, vídeo

La Chambre Chantal Akerman, 1972, 10`, 16mm (exibição em vídeo)

*classificação indicative: livre

19h30

Conferência de  Sérgio Bruno Martins

http://www.aroeira.org.

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